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O manual das pessoas bem-sucedidas ensina que o percurso para a autorrealização é tão relevante, ou gratificante, quanto o objetivo.

Salário, segurança, ocupação do tempo, respeito aos olhos da comunidade e admiração da família são algumas das razões pelas quais trabalha a maioria das pessoas que desenvolve alguma atividade profissional, de acordo com a maior parte das pesquisas realizada pelas grandes consultorias de recursos humanos. Isso quer dizer que o dinheiro, salário, a remuneração ou recompensa – que também aparecem entre as respostas a esse tipo de pergunta, naturalmente – não são, em muitos casos, a motivação principal de muitos daqueles que entregam ao trabalho algumas horas do seu dia, uma parcela da sua semana, parte do mês, muitos dias do ano e, portanto, um considerável período da sua vida.

Mas há outra coisa, pouco citada nessas enquetes, que motiva verdadeiramente e provavelmente mais do que qualquer outra as pessoas que trabalham. Essa fonte de estímulo para a atividade produtiva é a busca do sucesso. E essa inspiração aparece pouco nos levantamentos justamente porque os entrevistados estão no caminho certo e pouco se dão conta de que, nessa jornada, batalham por encontrar o sucesso. Estão ocupados demais para notar que caminham na melhor direção.
É fácil, então, concluir que, embora a busca seja subjetiva, ocorra num plano inconsciente, a tentativa de alcançar o sucesso tende a ser o que move, de fato, sua carreira profissional. Esse é o objetivo comum da grande maioria dos profissionais ativos, independentemente do setor em que atua.

Significado de sucesso

Mas é curioso notar que a análise mais aprofundada dessa ambição saudável e não explícita de qualquer carreira revela que aquilo que se define como sucesso não é a mesma coisa para todos. Muito pelo contrário, sucesso, assim como personalidade ou combinação de DNA, é particular e único para cada pessoa.

“Alcançar um objetivo não é sucesso; o sucesso está no percurso em direção a esse objetivo”, definiu o autor motivacional Bob Proctor.

“Sucesso é fazer o que você quer, quando quer, onde quer, com quem quer, o quanto quer”, escreveu Tony Robbins, um dos papas da neurolinguística.

Mais curioso ainda é perceber que sucesso, na imensa maioria de definições registradas por gente que pensou sobre o tema, não é um pedestal a ser escalado, um troféu a conquistar ou uma fita que marca a linha de chegada ao fim de um percurso. Indistintamente, a caracterização de sucesso relata um processo, algo que acontece em estado de movimento, um gerúndio, digamos. Ninguém é um sucesso, pode-se dizer. Alguém está em condição de sucesso… pode-se até admitir que o sujeito permaneça nessa condição para sempre, mas isso vai depender de que mantenha o gás, a pegada, a fome de bola, os olhos vidrados.
Do mesmo modo que variam as definições e as características do sucesso, mudam, conforme o tempo passa e a cultura se modifica, os indicadores que nos permitem determinar se somos, ou não, criaturas que podem ser consideradas – e principalmente nos considerar – exitosas no campo profissional.

O sucesso tem as mais variadas formas

O sucesso pode alcançar o jogador convocado para a seleção, o vendedor que pulveriza metas, o executivo que comanda uma marca global, o criador de um novo medicamento. E também o atendente do McDonald’s eleito funcionário do mês. O pastor que tira do vício um fiel de sua igreja, o policial que prende um ladrão ou o feirante que atrai mais fregueses. Todos esses se sentirão em estado de sucesso quando, independentemente do reconhecimento público (que é bem-vindo, mas não é garantia de triunfo), puderem, à noite, pôr a cabeça no travesseiro com aquela sensação única, resumida na frase: “Hoje, eu dei o melhor de mim e alcancei o que desejo na atividade que desempenho.”
Sendo assim, parece fácil afirmar que o sucesso alcança os persistentes, caprichosos e corajosos o suficiente para ir com muita gana para cima de seus objetivos. Se parece fácil é porque é mesmo fácil demais. Não é só isso. Nosso Oscar, o mais conhecido jogador de basquete brasileiro, fazia centenas de arremessos depois do treino. Uma vez perguntaram se ele estava querendo acertar ainda mais do que acertava em seus jogos. Ao que ele respondeu: “Não”. Pretendia apenas errar menos.

O que isso significa?

Significa que, ao lado de ter uma meta, manter-se firme na trajetória e desenvolver autoconhecimento, o profissional que queira ser considerado – e considerar-se – bem-sucedido, tem de desenvolver maneiras de orientar a si mesmo e de aprender com os erros mais do que se gabar dos acertos.
Pela mesma régua, empresas que dormem sobre as atitudes corretas do passado e não olham para a modernização necessária em seu negócio são boas candidatas a aplaudir o sucesso da concorrência. A adoção de processos tecnológicos sofisticados, por sinal, é uma das melhores maneiras de cometer autoengano, para as corporações. Muitas compram o que há de mais novo no mercado, contratam treinamentos de ponta e formam usuários, entre seus funcionários, que se assemelham a robôs. Ótimos na execução de rotinas, mas incapazes de inovar a partir do que aprenderam.
Por isso os bons consultores falam tanto na necessidade de internalizar o conhecimento. E, do mesmo modo, podem estar a um passo de grandes dificuldades os empreendimentos que hoje aparecem muito bem na foto, mas não estão pensando em como se manter bem no filme. Seja o restaurante cujo chefe estrelado não manda seus auxiliares para estágio no exterior ou a empresa cuja equipe de vendas, campeã ao longo dos últimos anos, começa a curtir mais o entretenimento social das convenções do que os debates sobre novos desafios.
A conclusão é óbvia: quando tudo parece bem encaminhado, na direção de sucesso, é porque chegou o momento de abandonar a zona de conforto e sair atrás de novas possibilidades. Essa atitude inconformista é apontada, por muitos profissionais e empresários que entrevistei, como a própria razão do sucesso.
Vale notar que nenhum desses entrevistados espera modificações de fora para dentro (na empresa em que trabalham, por exemplo) nem põe a culpa por eventuais tropeços no ambiente externo. Pode até ser que a responsabilidade de um fracasso em certos momentos seja de outro ou de uma companhia, mas reclamar e apontar culpados geralmente é apenas perda de tempo. Precisa ficar bem claro que não existe azar que dure para sempre, embora em alguns momentos seja por azar mesmo que algo não saiu como planejado.

Mas, e a sorte, faz diferença?

A resposta é sim. É preciso ter sorte para alcançar o sucesso. Mas só tem sorte quem se colocou em condições de ser alcançado por ela, como um centroavante que só é capaz de cabecear a bola porque salta mais alto do que os defensores e só salta mais alto porque treinou e continua treinando como saltar. Esse vai ter a sorte de fazer muitos gols de cabeça.
É bem interessante notar que, para um sujeito que ama sua atividade, esse treino, o exercício diário de fazer melhor para se colocar na posição de ter sorte e alcançar sucesso, quase sempre produz, com o uso positivo da adrenalina, os hormônios que explicam quimicamente a sensação de felicidade: endorfina, ocitocina, dopamina e serotonina.
“O que se leva da vida é a vida que a gente leva”, reza o mantra de um craque de vendas que conheço e que se diverte exatamente porque faz o que ama com muito capricho e bons resultados.

E você? Está se divertindo? Está no caminho do sucesso?
Vai ver está no passo certo e nem se dá conta disso, o que já é um bom sinal.

Por Gilberto Cavicchioli
Consultor de empresas e professor da ESPM, FGV e Senac, realiza palestras motivacionais e consultoria, coordena o site profissionalsa.com.br, é autor dos livros: ‘O Efeito Jabuticaba’ e ‘Cartórios e Gestão de Pessoas: um desafio autenticado’.

Publicado originalmente no sita da Revista VendaMais em 20 de março de 2019