Experiência valerá mais que formação

Cavicchioli Treinamentos - Cartórios

O título acima pode gerar questionamentos. Uma pesquisa recente realizada pela USP – Universidade de São Paulo, sinaliza que na próxima década, a experiência profissional – as vivências do profissional ao longo do tempo, – valerão mais que sua formação inicial.

Como já comentado nesta coluna, o trabalho que conhecemos nas formas tradicionais passa por mudanças profundas. Segundo a pesquisa, o futuro do trabalho contará com a combinação de vários conhecimentos, tanto técnicos quanto comportamentais, além da convivência com máquinas inteligentes, a Inteligência Artificial (IA), que já participa do cotidiano de muitas pessoas e empresas.

Atualmente, o termo profissão cede espaço para o termo carreira, ou seja, a sequência de experiências pessoais no trabalho ao longo do tempo de vida ativa. Começa-se com uma formação escolar inicial, e vamos avançando em ganhos de competências, migrando de posições conforme as novas demandas, segundo Tania Casado, professora titular da FEA-USP.

A atividade notarial e registral vivencia uma ampla transformação digital exigindo que os cartórios extrajudiciais passem a contar com funcionários capazes e aptos a realizar atividades em estruturas de TI, citando apenas um exemplo, do que têm mudado no setor. Há pouco tempo tais habilidades e outras correlacionadas não seriam imaginadas pelos profissionais mais maduros na atividade extrajudicial.

Atos notariais como a Apostila Eletrônica da Haia ou conhecimentos técnicos sobre como evitar gastos com vazamento de informações eletrônicas, são outros exemplos de novas competências que a experiência na carreira assume papel importante em complemento à formação acadêmica.

O mercado corporativo batiza de “carreira inteligente” essa nova postura profissional. Os valores, os propósitos profissionais adicionados ao que motiva o profissional na atividade cotidiana devem estar alinhados com a missão e visão da atividade notarial.

Deve-se levar em conta que a mão de obra jovem que chega ao mercado se relaciona de uma forma diferente no ambiente de trabalho quando comparada ao profissional maduro com mais “tempo de estrada”. Essa geração jovem se sente atraída pela multidisciplinaridade das funções e por agilidade para migrar para outras áreas de atuação, o que não se consegue aprender na formação escolar tradicional, a partir do “banco escolar”, como se dizia antigamente, e sim na experimentação, nos diálogos e feedbacks mantidos com gestores e colegas no dia a dia. E também na observação in loco do problema diante dos envolvidos em sua solução.

Essa experimentação instiga a curiosidade e a criatividade do funcionário para aperfeiçoar os processos de atendimento, aprofundar-se no conhecimento de leis e provimentos, por exemplo, sempre com foco na eficiência dos atos praticados.

As carreiras do futuro estão em franca mudança conforme a pesquisa. Áreas no mercado de trabalho que envolve segurança, inovação, ética e transformação digital estão na mira das evoluções. As metodologias ágeis valorizam o trabalho em pequenos grupos de tarefas, em que a inovação ocorre baseada em experimentação e tempo de resposta rápidos.

Essas áreas estão muito relacionadas às atividades desempenhadas pelos cartórios extrajudiciais, portanto, será interessante investir nessa direção. Isso nos obriga a desenvolver habilidades comportamentais diferenciadas que certamente passam pela capacitação de funcionários por meio da experiência.

A necessidade de atendimento com excelência na atividade registral e notarial tem sido tema frequente das páginas deste Jornal. Atender com qualidade exige do funcionário conhecimentos e habilidades como boa comunicação, capacidade de escutar o cliente interno e o externo – a conhecida escuta ativa, – dominar técnicas de negociação e boa dose de inteligência emocional que serão adquiridas ou conquistadas na lida diária com colegas de trabalho, com os usuários da serventia e também em atividades promovidas por entidades de classe, como o próprio CNB-SP.

Li certa vez a expressão, “ninguém gosta do que não conhece”, o que em minha opinião, é uma grande verdade. Somos resistentes ao novo.

A dinâmica efervescente de mudanças e inovações dentro dos cartórios pede e valoriza profissionais cada vez mais atualizados. Portanto, é preciso manter-se atento às tendências, investindo em novos conhecimentos por meio do aprendizado tradicional e também por experimentação, pois se fecha o espaço para aquele profissional que tem apenas uma especialidade.

Ficamos por aqui.

Um abraço e até nosso próximo encontro.

Publicado originalmente no Jornal do Notário – ANO XXI – Nº 195
– JAN/FEV – 2020, pgs. 30 e 31

Gilberto Cavicchioli

Por Gilberto Cavicchioli

É professor de pós-graduação em cursos de Gestão de Negócios, consultor e gestor da empresa Cavicchioli Treinamentos. Realiza cursos e palestras técnicas sobre gestão de pessoas em cartórios extrajudiciais. Autor dos livros O Efeito Jabuticaba, na 4ª edição e Cartórios e Gestão de Pessoas: um desafio autenticado, na 2ª edição. Conheça nosso material sobre gestão em: cavicchiolitreinamentos.com.br