Vivemos atualmente, no Brasil, um período muito delicado. No meio da precária situação do nosso governo, que mistura frustração, fraudes, desilusão e incertezas, necessitamos ainda de encontrar forças (e recursos) para manter o bem estar de nossos familiares e o andamento saudável de nossos negócios.
Ouve-se aqui e ali muita conversa sobre a importância de obtermos o binômio tão difundido nos países ditos desenvolvidos: produtividade com qualidade.
Obter isso, atualmente, com os limitados recursos que dispomos, sejam eles humanos ou materiais é tarefa “prá-lá-de-difícil” e desafiadora para os melhores administradores de empresas.
É inegável que a velocidade de mutação de quase tudo hoje é muito grande e nem sempre o modo de administrarmos nosso negócio acompanha tal velocidade.
Referimo-nos especificamente ao tratamento que reservamos ao tema motivação de nossos colaboradores.
Motivando
A constatação de que a qualidade em produtos ou serviços vende, nos força a analisar este aspecto com outros olhos.
Seja o dono, diretor, gerente, chefe ou tenha lá o “apelido” que tiver, não encontrará nos manuais de administração receitas mágicas que tragam resultados capazes de garantir a motivação das pessoas, em relação ao trabalho.
Cabe ao administrador, que decide preocupar-se com a motivação de seu pessoal, o que fazer, no momento certo, variando de pessoa para pessoa e de setor para setor.
O estudioso que, a nosso ver, melhor analisou a motivação foi Abraham Maslow. No entendimento dele, motivação (do latim movee = mover) indica um estado psicológico, caracterizado por um elevado grau de disposição ou vontade própria de realizar uma tarefa ou perseguir uma meta.
Forças
Para os administradores, dentro de uma visão de compreensão do comportamento das pessoas, interessa saber quais são as forças, motivo e estímulos que energizam esse comportamento, para que se apresente tal disposição.
O comportamento das pessoas está totalmente relacionado com as necessidades de cada um. Essas necessidades podem vir de dentro, camadas internas, como fome, sede, sexo, conforto físico, entre outros.
Exemplo: uma pessoa com fome tem comportamento levado a procurar alimentação. Quanto mais forte essa e outras necessidades, mais será o seu empenho em satisfazê-las.
Uma vez alimentado, o alimento deixa de ser um estímulo para o comportamento porque já não existe o impulso interno – a motivação – para persegui-lo.
Acima dessas necessidades existem as necessidades adquiridas ou desenvolvidas pelo meio social a que pertencemos.
São os motivos externos e um exemplo é o desejo de posse de certos bens materiais, ou porque gostamos deles ou porque o meio social valoriza a sua posse.
Pirâmide
A hierarquia das necessidades, segundo Maslow, ensina que:
- Uma ordem qualquer de necessidades precisa ser satisfeita antes que a ordem seguinte represente uma preocupação.
- Uma vez satisfeito uma das ordens de necessidades, esta deixa de representar uma preocupação e o indivíduo passa a ser motivado pela ordem seguinte de necessidades.
Tudo isso é uma tese simples de ser compreendida, mas que se torna difícil ao considerarmos que cada indivíduo é diferente do outro e, portanto, suas necessidades específicas nem sempre seguem a sequencia do caminho exposto acima.
Dificuldade
No processo de motivação, sem dúvida, o dinheiro é parte muito importante, mas vivemos hoje a chamada “era das relações humanas” em que algumas empresas brasileiras produtos e serviços já descobriram que a prática adequada das relações humanas, entre tantos outros benefícios, aumenta a produtividade.
Como aplicar benefícios na motivação pelo trabalho vai de empresa para empresa, em função de suas responsabilidades, seu porte, posição geográfica, etc.
Temos visto em algumas empresas a aplicação de procedimentos visando a maior motivação de seu pessoal. São vários e mencionamos abaixo apenas alguns, com resultados interessantes:
- Criação de atividades esportivas entre setores.
- Painel de funcionários mais esforçados.
- Prêmios por sugestões visando desburocratizar a empresa.
- Preocupação com o bem estar dos familiares dos funcionários.
- Plano de assistência médica familiar ou um simples ambulatório na empresa, já ajuda muito.
- Salários compatíveis com o mercado e a preocupação da empresa em não deixar que os salários fiquem defasados.
- Promover cursos de aperfeiçoamento profissional para os funcionários mais destacados.
Participação
É claro que existem inúmeras outras maneiras de se promover a motivação, mas dentre estas, o que vem surtindo os melhores efeitos motivadores é, sem dúvida, a participação de todos na tomada de certas decisões na empresa, isto é, uma espécie de democracia administrativa.
Participar das metas e perspectivas da empresa no presente e no futuro, motiva, pois dá a noção de utilidade e importância a cada um o contexto geral, tornando assim, a motivação um assunto vivo na organização.
A administração participativa na resolução de problemas pode, também, ideias dos próprios colaboradores, do que estes necessitam para se sentirem motivados continuamente.
Finalmente, entendemos que motivar pessoas é dar a elas a oportunidade de satisfazerem suas necessidades básicas, específicas e constantes, ou seja, ser coadjuvante do processo de entendimento daquilo que lhes falta.
Publicado na Revista Via Expressa. Nº5 – jan/fev 1992.
Por Gilberto Cavicchioli
Consultor de empresas, professor em pós-graduação e MBA em grandes Escolas de Negócios do Brasil.
Dirige a empresa Cavicchioli Treinamentos cavicchiolitreinamentos.com.br