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As vantagens e desvantagens do trabalho flexível e remoto, cuidados na adoção e a possibilidade de fazer um período de testes e estão no artigo do professor Gilberto Cavicchioli.

As novas tecnologias e demandas sobre qualidade de vida têm mudado a percepção das pessoas em relação à dedicação ao trabalho.

O trabalho padrão, clássico, aquele de sair cedo e retornar para casa no final do dia, cumprindo uma jornada de horas ininterruptas começa a ficar ultrapassado em alguns setores da economia.

Segundo relatório do International Workplace Group (IWG), feito com 15 mil profissionais em 80 países, inclusive o Brasil, 83% dos executivos entrevistados afirmam ter percebido aumento da produtividade depois de oferecer jornadas flexíveis às suas equipes de trabalho.

Mudanças no estilo de vida e hábitos das populações exigem adequações na relação capital e trabalho. Trabalhar de casa remotamente, sem exigir a presença física no local de trabalho, é uma tendência mundial. No Brasil, o número de empresas que oferece condições flexíveis de trabalho não para de crescer, uma vez que isso traz muitos benefícios, tanto para o empregador quanto para o funcionário.

A legislação trabalhista brasileira não dispõe ainda de dispositivos que disciplinem jornadas móveis de trabalho. Adotar o home office, ou o trabalho remoto, parece ser interessante, contanto que gere mais produtividade e fortalecimento da responsabilidade e comprometimento. Vale colocar na balança certos pré-requisitos antes de se adotar a prática como:

  1. Maior equilíbrio entre atividades profissionais e pessoais
  2. Maior concentração com menos interrupções nas atividades
  3. Redução de custos com consumos de materiais e serviços inerentes ao trabalho fixo no escritório
  4. Redução dos atrasos e faltas
  5. Aumentar a retenção de colaboradores
O trabalho flexível aumenta a produtividade?

Horário ajuda a evitar o trânsito do horário de pico. Foto de Alexander Popov / Unsplash

Muitas empresas já flexibilizam o horário de chegada dos funcionários no início da manhã, evitando o período de pico no deslocamento de transporte, compensando essas horas em horários negociados caso a caso. Uma solução simples adotada é o colaborador entrar uma hora mais tarde e sair uma hora mais tarde. Outra já muito comum em certas empresas nas sextas-feiras é fazer o oposto: o colaborador entra uma hora mais cedo e sai uma hora mais cedo.

Para que se tenha uma ideia de como esse assunto está mudando as relações no trabalho, há casos de empresas que no processo de recrutamento e seleção colocam a alternativa de flexibilidade de horários para atrair ainda mais o futuro colega de trabalho.

O que deve ser considerado

O horário flexível traz muitos ganhos de produtividade. Porém, ele não exclui a importância do trabalho presencial. Tudo vai depender do tipo de trabalho, da equipe e dos resultados a serem conquistados para a satisfação dos clientes. Muitos profissionais realmente são mais em regime de home office. É o caso de analistas de TI ou de operadores de câmbio ligados a mercados com outro tipo de fuso horário. Ou seja, apesar de muitos casos apresentarem vantagens, é necessário também pesar pontos negativos como:
– sentimento de falta de convivência com os colegas;
– baixo rendimento de funcionários que requerem um grau maior de supervisão;
– perda na qualidade da comunicação entre os envolvidos;
– menor contato com o público.

É recomendável, portanto, que antes da implantação da jornada de trabalho flexível seja feita uma pesquisa de opinião junto aos funcionários. Assim será possível avaliar se a adoção irá ter resultados práticos e positivos tanto entre os envolvidos quanto em atingir os resultados pretendidos.

Se a alternativa for aprovada, é recomendável também que seja implementado um projeto piloto, supervisionado pelo responsável da área de Recursos Humanos.

O primeiro passo é realizar um diagnóstico meticuloso dos pontos críticos. É importante definir quais áreas e atividades podem ser realizadas em jornadas flexíveis e quais não. Se o colaborador terá ferramentas e acesso às informações que precisa de forma remota. E cruzar com as expectativas dos envolvidos, inclusive da diretoria da empresa, sobre a efetividade do trabalho.

Após este primeiro diagnóstico deve-se elaborar um cronograma definindo as prioridades e ações para a implementação das jornadas flexíveis. Nesta etapa devem ser realizadas palestras esclarecedoras para toda a empresa a fim de apresentar o modelo que será implantado. É fundamental que todos entendam as políticas, regras e responsabilidades, além do que será cobrado e de que forma. Tudo às claras. É preciso que todos entendam que há responsabilidades e compromissos, mesmo fora da empresa.

Inovações exigem tempo de adaptação e correções. Um ou dois meses de testes são suficientes para demonstrar se a ideia será proveitosa ou não. A política da flexibilização prioriza o que as pessoas podem entregar e não o quanto de tempo elas permanecem no local de trabalho.

Entre os desafios de implantação dessa nova modalidade de trabalho temos:
– estabelecer critérios para medir o desempenho na função;
– determinar atribuições e responsabilidades;
– gestão das atividades cotidianas e o fluxo de trabalho entre os colaboradores;
– a distribuição mais acurada de tarefas.
– estabelecer um horário núcleo, ou seja, um horário em que toda a equipe deve estar presente na companhia.
– empresas que trabalham com sistema eletrônico de ponto precisam parametrizar o sistema em função da nova política de flexibilidade de horas

Se após o período de testes, a produtividade aumentar e os colaboradores entrarem em um fluxo de trabalho otimizado, a jornada de trabalho flexível poderá ser uma ótima alternativa para a força de trabalho da empresa.

Caso ela não se encaixe no modelo de trabalho ou não apresente os resultados em produtividade esperados, talvez não seja a hora certa. Entretanto, o mundo caminha para esse modelo flexível e fatalmente toda empresa terá um dia que se adaptar aos novos tempos.

Um fato interessante, presente na vida de todos, em qualquer país do mundo, que será cada vez mais determinante para a flexibilização dos horários de trabalho é o crescente número de adultos idosos nas famílias. Eles demandam cuidados constantes, geralmente a cargo de um ou mais membros da família.

Se o colaborador estiver nessa situação, a jornada flexível permitirá que ele desempenhe a função sem prejuízo ao seu trabalho profissional.

Para estes e muitos outros casos, adequar as necessidades da empresa com expectativas dos funcionários pode permitir um maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal, elevando também a eficiência de todos os envolvidos.

É uma garantia de empregabilidade, produtividade e retenção. E certamente uma maneira mais contemporânea de gerir uma empresa inserida nos tempos atuais.

O trabalho flexível aumenta a produtividade?

Jornada flexível permite mais tempo para cuidar dos idosos. Foto: Pexels / Pixabay

Não podemos esquecer que em empresas nas quais se vende ou se presta algum tipo de serviço direto ao consumidor, nada substitui o poder que o atendimento presencial, face a face, provoca no cliente. É uma garantia de se estabelecer uma relação de confiança, um senso de proteção que, cá entre nós, o trabalho à distância dificilmente pode proporcionar.

Por isso, é preciso ter a sensibilidade para introduzir essas novas alternativas de trabalho cirurgicamente, de modo que seja um bom desafio e uma ótima conquista para todos.

Até nosso próximo encontro, um abraço.

Gilberto Cavicchioli
Por Gilberto Cavicchioli

Consultor de empresas, professor em pós-graduação e MBA em grandes Escolas de Negócios do Brasil.
Dirige a empresa Cavicchioli Treinamentos cavicchiolitreinamentos.com.br