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CBN Mundo Corporativo: Gilberto Cavicchioli diz como ser o vendedor que o cliente busca e o mercado precisa

“Somos vendedores do nosso próprio negócio: nós estamos vendendo a todo o tempo nossas habilidades e nossas competências”

GILBERTO CAVICCHIOLI

A ampliação do comércio eletrônico, o crescimento das plataformas digitais e o uso de inteligência artificial no setor de vendas não serão suficientes para extinguir a função do vendedor. Ao defender essa ideia, o consultor Gilberto Cavicchioli faz, porém, uma ressalva: ele não está se referindo aquela figura clássica do vendedor que empurra qualquer produto para o cliente, do tipo que ‘vende gelo até para esquimó’, que se satisfaz em emitir nota. Em entrevista ao programa Mundo Corporativo, Gilberto, que é especialista em marketing de venda, diferencia de forma clara esse vendedor que costumamos encontrar no mercado e a figura do vendedor consultivo:

“… aquela figura da venda transacional, me dá aqui o produto que eu te pago ali na frente, deixou de ter a importância que já teve”

O vendedor consultivo tem mais qualificação, conhece o mercado e as particularidades do cliente: está preparado para abordá-lo, compreende suas expectativas e dores, e tem a solução para oferecer. Para isso, estuda a concorrência e o comportamento das pessoas e do mercado:

“O vendedor consultivo tem muita empatia, tem noção do que é benefício e vantagem, o que dificilmente o software deverá alcançar. Além do que, quando a pessoa decide comprar algo importante para si, que trará produtividade, essa pessoa gosta da convivência. E se esse vendedor alimenta essa convivência ética e transparente. Ele terá a preferência do cliente”.

Para Gilberto, uma coisa é entrar em um site e comprar um tênis para a maratona, outra é encontrar uma loja em que o vendedor é o maratonista. Haverá cumplicidade entre as partes envolvidas no negócio.

Ele usa a metáfora do iceberg para ilustrar essa relação intima que deve haver entre o cliente e o vendedor. O iceberg é o cliente vagando pelas águas e pelos mares, com oportunidades e ameaças. O mercado é o oceano com todas suas especificidades e tendências, que podem ser comparadas com as correntes marítimas. O vendedor consultivo é a bússola, o orientador, que guiará o ‘iceberg’ para as melhores escolhas. Para que a direção seja mais precisa é preciso entender, também, que o cliente tem, assim como o iceberg, uma parte bastante visível, mas a venda vai ocorrer a partir daquilo que for descoberto abaixo da linha da água: é onde estão os medos e as dúvidas do seu consumidor.

No livro  “O vendedor e o iceberg – guia prático e estratégico de vendas consultivas”, Gilberto escreve que a venda consultiva exige o desenvolvimento de uma metodologia que passa pelas oito fases do funil de vendas:

  1. Pesquisa e planejamento —- o que eu vou vender, para quem, em qual mercado, quem são os concorrentes;
  2. Prospecção —— onde estão os potenciais clientes;
  3. Abordagem/proximidade —- como eu abordo esse potencial cliente;
  4. Necessidades e expectativas —- o que realmente esse cliente procura ou necessita;
  5. Proposta de valor — onde o cliente vai perceber os benefícios e vantagens de comprar de mim;
  6. Negociação
  7. Fechamento da venda
  8. Pós-venda ou marketing de relacionamento —- momento em que o vendedor mantem-se ao lado do cliente para descobrir se aquilo que prometeu está se realizando

Apaixonado pela função de vendedor consultivo, Gilberto Cavicchioli também realiza treinamentos para instituições e associações de jovens em situação de vulnerabilidade, pois tem a crença de que muitos deles, mesmo que não tenham um curso superior, podem se desenvolver nesta atividade:

“Esse profissional ainda é muito valorizado e eu acredito até que é uma profissão que não será substituída pela inteligência artificial. Eu acredito que dedicar-se a venda consultiva é uma atividade que promove uma mobilidade social no nosso país”.

Confira a entrevista por áudio:

Assista à entrevista completa com Gilberto Cavicchioli, no programa Mundo Corporativo:


O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, quartas-feiras, 11 horas da manhã, no site da CBN, no canal no youtube e na página do Facebook. O programa vai ao aos sábados, 8h10 da manhã, no Jornal da CBN, aos domingo, às 10 da noite, em horário alternativo, e a qualquer momento em podcast. Colaboram com o programa Izabela Ares, Bruno Teixeira, Débora Gonçalves e Natasha Mazzaro
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Fonte: Mílton Jung, programa Mundo Corporativo / CBN, 31/07/2021

Gilberto Cavicchioli
Por Gilberto Cavicchioli

Consultor de empresas, professor em pós-graduação e MBA em grandes Escolas de Negócios do Brasil.
Dirige a empresa Cavicchioli Treinamentos cavicchiolitreinamentos.com.br

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Artigos Carreira

Do porteiro ao CEO, há rótulos para todos

Confira a matéria do Blog Radar do Emprego do Estadão com a contribuição de Gilberto Cavicchioli.

ELIANE SOBRAL/ESPECIAL PARA O ESTADO

Τema de acalorados debates dos grupos da família no Whats App ao cafezinho da firma, Neymar Jr. vai ter de suar a camisa para se livrar da fama de cai-cai. Mas antes de proferir sua próxima crítica ao camisa 10 da Seleção, seria prudente você se perguntar qual é o rótulo que o define no seu ambiente de trabalho. E pode apostar, a possibilidade de você ter um, é bem maior que as faltas simuladas pelo atacante do Paris Saint-Germain.

Às vezes, nem é preciso um grande esforço para ganhar fama. Mas sempre será muito trabalhoso se livrar de um adjetivo pouco lisonjeiro.

Considerado um advogado brilhante na área trabalhista, o jovem Pedro (nome fictício), então com 28 anos, trabalhava em uma multinacional onde o debate entre os diversos níveis hierárquicos era estimulado. Trocou de empresa e, em sua segunda semana na nova casa, foi chamado a dar seu parecer sobre um tema que ele dominava, em reunião com o alto comando da companhia. “Comecei a falar e notei um certo mal-estar. A diretora responsável pela área fazia exatamente o que eu estava contestando. Percebi o clima, recolhi minhas convicções e conhecimentos técnicos, mas nunca mais me livrei da fama de contestador”, diz ele, que era gerente na época.

O jovem permaneceu mais três anos na empresa e diz que não se sentiu prejudicado ao longo deste período, mas nos feedbacks nunca deixaram de citar o episódio e ele nunca mais foi convidado a participar de reuniões com o alto escalão.

Rolando Lero. Rótulos são diferentes de apelidos, dizem os especialistas em carreira e recursos humanos. Mas a finalidade de um e de outro é a mesma: destacar padrões repetitivos ou características pessoais. “Marca pessoal é o que falam de mim quando eu não estou na sala”, lembra a diretora de transição de carreira da Lee Hecht Harrison, Irene Azevedoh.

Não demora para um funcionário muito prolixo ganhar o título de Rolando Lero, o personagem da Escolinha do Professor Raimundo, imortalizado pelo ator Rogério Cardoso.

Caso que de fato aconteceu com um executivo que ocupava cargo de liderança e comandava uma equipe numerosa. Ele demorava tanto a concluir o raciocínio que ninguém prestava muita atenção ao que dizia. O rótulo só foi descoberto porque, por descuido, alguém enviou um e-mail chamando para uma reunião que tinha como título “apresentação de Rolando Lero”. O próprio estava copiado na convocação.

Horácio. Assim como o Neymar Challenge – a brincadeira em que as pessoas caem ao escutar o nome do jogador brasileiro – os rótulos não surgem por acaso. “Eles derivam da forma como o profissional é percebido e pela forma como ele se comunica”, diz a psicóloga Anna Carolina Frazão, gerente de recursos humanos da Bristol-Myers Squibb. “Uma vez identificado o problema, o profissional tem de ter humildade para mudar sob pena de ter impacto na carreira”, diz ela.

Quem nunca trabalhou com alguém batizado de Horácio, o dragão dos quadrinhos que tem braço curto, em referência a algum colega com dificuldade de entregar as tarefas. “Pode mesmo ser alguém relapso, mas também pode ser um profissional com mais capacidade de planejar do que de executar”, defende Caroline Cadorin, diretora da Hays, recrutadora de média e alta gerência. Daí a importância de identificar rapidamente se você tem um rótulo, e trabalhar para mudá-lo, caso seja negativo, acrescenta Irene.

E sempre é possível reverter. As próprias empresas, preocupadas em inibir comportamentos que eram aceitos no passado, mas que são condenáveis nos dias de hoje, oferecem ferramentas e orientam suas lideranças a trabalhar o profissional rotulado – quando julgam que vale a pena investir, claro.

Oh céus! Irene, da LHH, lembra o caso de um executivo rotulado como pessoa com pouca energia e disposição mas que era um ótimo profissional. “O rótulo veio porque ele sempre destacava o lado negativo de tudo que ele falava”, lembra Irene, ela própria rotulada como pessoa pouco formal. “Não digo que tenha atrapalhado minha carreira, mas certamente atrasou uma promoção que só veio quando eu já estava com 38 anos de idade.”

Para o professor de pós-graduação da FGV de São Paulo e da ESPM Gilberto Cavicchioli, nem sempre o rótulo é negativo e, diz ele, só são rotuladas as pessoas que têm um comportamento que sai da mesmice, que foge do padrão estabelecido.
Incensado no mundo inteiro, por recuperar a Renault da falência certa na década de 1990 e se tornar tema de mangá no Japão, onde recuperou a Nissan, Carlos Ghosn mostrou certo desconforto com o rótulo de “le cost killer” (o matador de custos) ao dizer em entrevista ao Financial Times “há sangue nele, há maldade nele”.

Para o professor do Departamento de Economia da PUC Leonardo Trevisan, para o bem ou para o mal, rótulos são sempre perigosos. “No caso do Ghosn, é fabuloso ser reconhecido como alguém capaz de reverter qualquer situação. Mas ele não pode garantir que não vai errar nunca. Tanto não pode que mostrou desconforto com o título. O espaço que separa o céu do inferno é muito pequeno.”

Astro Rei. Anna Carolina, da Bristol, diz que quanto maior a posição ocupada pelo rotulado, mais difícil administrar a situação. “Porque é preciso ter humildade para reconhecer que há algo errado, ou na sua postura, ou na sua comunicação e, nem sempre, as pessoas estão disposta a admitir que não são à prova de falhas”, resume ela.

Pode-se ilustrar o raciocínio da psicóloga com o caso do CEO apelidado pelos funcionários de Astro Rei. “Ele se colocava como alguém tão brilhante e tão superior ao demais funcionários que virou motivo de piada”, lembra o antigo diretor de recursos humanos da empresa. O reinado do iluminado CEO terminou com sua saída da companhia pelos maus resultados.

A arte de escapar dos rótulos não é para iniciantes mas há regras básicas a seguir que podem minimizar os riscos (veja quadro abaixo).

“O rótulo mais frequente vem da comunicação e os jovens estão mais propensos a ter este tipo de problema”, afirma Olga Curado, consultora em comunicação e gestão de imagem. O motivo, diz ela, é que os mais jovens chegam ao mercado bem capacitados tecnicamente, mas sem jogo de cintura no quesito relacionamento. Neymar que o diga.

Os três pilares que sustentam a imagem

VALOR. Refere-se o aspecto moral e ético. Identifica a motivação que orienta as ações. Tem no seus extremos por um lado o altruísmo – quando o foco das ações está orientado para o benefício do outro. Na outra ponta está o egoísmo, quando a motivação visa exclusivamente o benefício próprio.

GESTÃO. Este pilar pode ser aplicado à empresa e aos indivíduos e refere-se a entrega, aos resultados. As qualidades são eficácia versus ineficácia. O indivíduo, a organização ou a instituição entregam o que prometem? Qual é a qualidade dessa entrega?

RELACIONAMENTO. São as habilidades para estabelecer vínculos. O comportamento é inclusivo ou excludente? Qual a base das relações: cooperação ou conflito?
A imagem projetada é então a soma de Valor + Gestão + Relacionamento ( do livro A Imagem Revelada, de Olga Curado)

Gilberto Cavicchioli
Por Gilberto Cavicchioli

Consultor de empresas, professor em pós-graduação e MBA em grandes Escolas de Negócios do Brasil.
Dirige a empresa Cavicchioli Treinamentos cavicchiolitreinamentos.com.br