O termo “dormir em camas separadas” é uma metáfora que, no contexto empresarial, sugere proximidade formal, mas distanciamento estratégico ou funcional.
Significa que duas áreas, departamentos ou até os sócios estão tecnicamente no mesmo negócio, mas não estão realmente em sintonia. Vivem sob o mesmo “teto corporativo”, mas cada departamento segue seu próprio caminho.
Em muitas empresas, especialmente as de maior porte, existe uma curiosa contradição que mina a eficácia organizacional: a dissonância entre os propósitos estratégicos e as táticas operacionais. É como se os departamentos compartilhassem o mesmo teto, mas dormissem em camas separadas — próximos, porém desconectados. Fingem intimidade, mas de verdade, pouco se conhecem.
Falta um fio condutor
A alta liderança costuma estabelecer propósitos nobres: inovação, excelência no atendimento ao cliente e crescimento sustentável. No papel, todos parecem alinhados. No entanto, quando essas ideias descem a escada hierárquica, são traduzidas em ações fragmentadas e, por vezes, conflitantes.
Enquanto o time de marketing persegue agressivamente metas de curto prazo, o time de produto tenta implementar melhorias que exigem mais tempo e reflexão. A operação corre atrás de eficiência, cortando custos que, ironicamente, comprometem a experiência do cliente — justamente o foco declarado da empresa. Falta coragem para admitir que a prática está divorciada da estratégia.
Essa desconexão se dá, muitas vezes, pela falta de um fio condutor claro entre o “por quê” e o “como”.
Propósitos mal comunicados, mal compreendidos ou simplesmente ignorados geram equipes que operam no automático, com baixo engajamento, sem considerar o impacto sistêmico de suas decisões. Cada área busca seus próprios indicadores de sucesso, como se estivesse em uma competição interna.
Sonhos diferentes
Dormir em camas separadas, no mundo corporativo, significa perder calor humano — ou, no caso aqui, calor organizacional: o senso de pertencimento, de causa comum, de sinergia.
Cada área joga o seu jogo, defende o seu território, e no fim do dia, ninguém está jogando pelo time. Quando os setores não “dialogam”, cada um sonha um sonho diferente, e nenhum deles se realiza plenamente. A empresa não cresce – apenas envelhece.
A solução não está apenas em mais reuniões ou manuais de missão, mas em criar espaços reais de escuta, alinhamento e coautorias. Propósitos devem ser vivos, acessíveis e traduzíveis em ações concretas.
Só assim a empresa poderá, de fato, compartilhar não apenas o teto, mas também os sonhos — e as conquistas.
17/abr/2025
Por Gilberto Cavicchioli
Consultor de empresas, professor em pós-graduação e MBA em grandes Escolas de Negócios do Brasil.
Dirige a empresa Cavicchioli Treinamentos cavicchiolitreinamentos.com.br