Um número cada vez maior de empresas tem de alguns anos para cá, felizmente, dado maior atenção às questões e ações relacionadas à diversidade e inclusão.
As culturas organizacionais se veem obrigadas a rever, a renovar e inovar certos procedimentos e condutas quebrando alguns paradigmas. A diversidade consiste em características e singularidades que vão além da convivência com gêneros, cores, idade ou orientações sexuais diferentes. A inclusão, como conceito complementar, é a proposta a todos de oportunidades iguais.
Tais conceitos significam também o respeito a ideias, culturas e contextos de vida distintos, que exigem esforços dos profissionais atentos aos movimentos das relações humanas no ambiente corporativo.
Pesquisa conduzida em 2021 pela Falconi Consultoria, dirigida a líderes de grandes empresas constatou que para 39% dos respondentes, as ações direcionadas à diversidade e inclusão têm baixo impacto e que para 21% tais ações não existem. Há, portanto, um longo caminho a se percorrer nessa direção.
O assunto torna-se relevante em vários setores de atividades de empresas do mundo todo. O Brasil, que é um país construído com forte desigualdade social, grande pluralidade cultural, étnica e religiosa, poderá se tornar um exemplo mundial de diversidade e inclusão.
Trabalhar em ambiente diverso não se trata de um modismo passageiro ou onda, em que as empresas deverão surfar para se aproximar de clientes. Muitos movimentos sociais vêm buscando pelos seus direitos e sendo cada vez mais rigorosos quando, por exemplo, marcas de produtos e serviços falam de diversidade e de gestão da inclusão apenas “da boca pra fora” e de forma oportunista.
“Uma das formas que as empresas encontraram para ir além do discurso foi admitir o problema e transformá-lo em ações positivas”, escreveu recentemente a jornalista Sandra Boccia, diretora de redação de Época Negócios.
Os tabeliães e registradores em constante modernização de seus serviços à toda a sociedade, o e-notariado é apenas um dos exemplos, atribuem autenticidade aos negócios jurídicos realizados pelas pessoas, independentemente de qualquer juízo de valor, relativo a qualquer diversidade.
É no cartório extrajudicial que se registra o nascimento de um filho, ou a compra de um imóvel ou uma doação ou testamento. É, portanto, vocação dos tabelionatos e registradores realizar os atos jurídicos da vida civil das pessoas, sem levar em conta qualquer discriminação em relação a grupos ou minorias com qualquer diversidade. Todos são inclusos.
Este é um ponto de atenção, pois, caso o objetivo de movimentos sociais não sejam de conscientização ou estímulo de uma cultura inclusiva, as campanhas podem acabar sendo percebidas como diversity washing, termo usado atualmente, traduzido do inglês como “lavando a diversidade”, ou seja, a empresa diz estar comprometida com a diversidade, sem sustentar essa imagem com ações, políticas e práticas internas sólidas.
Ações da serventia para aplicar a diversidade e inclusão
- Selecionar, contratar e engajar. Preparar os colegas de trabalho, o ambiente físico e cultural visando o compartilhamento de valores;
- Promover ações educacionais e campanhas internas frequentes. Investir e manter treinamentos sobre diversidade é fundamental para garantir a sensibilização e conscientização dos colaboradores.
- Educar e escutar. Escutar os colaboradores do cartório para contribuírem com ideias sobre a D & I. Pergunte a eles – e coloque-os em posições de tomada de decisão –, a respeito do posicionamento da serventia publicamente em relação à diversidade e se os valores presentes ali de fato refletem a cultura interna.
Ações importantes para iniciar esse processo de transformação
- Começar pela liderança, o líder de setor, o tabelião ou o registrador, que deve dar o exemplo, definindo objetivos e metas, garantindo transparência e engajamento dos colaboradores com o tema;
- Garantir tratamento de forma igualitária nas oportunidades, no pagamento de salários e nos benefícios nas mudanças de cargo e promoções;
- Proporcionar segurança e bem-estar, por meio do estabelecimento de políticas internas de tolerância zero;
- Focar em educação e treinamentos para orientar os colaboradores e inibir o desrespeito e discriminação;
- Estimular conversas sobre diversidade e inclusão, entre líderes de setores e liderados para se conhecer diferentes percepções e identificar problemas e soluções.
Culturas Diferentes + Trajetórias Diferentes + Visões de Mundo Diferentes
= Soluções Diversas
Benefícios de contar com equipes com diversidade e inclusão
Outra pesquisa sobre diversidade e inclusão realizada pela consultoria McKinsey com empresas dos EUA e Inglaterra a partir de 2017, demonstra que equipes compostas com diversidade é 35% superior em engajamento e desempenho. Diversidade é produtiva e também induz à inovação. A diversidade de opiniões ajuda a pensar “fora da caixa”.
Conheça alguns benefícios da diversidade e inclusão nas empresas
- Melhoria nos resultados;
- Redução dos conflitos;
- Maior acolhimento e segurança por parte dos colaboradores;
- Elevação da criatividade;
- Engajamento e disposição;
- Redução do turnover;
- Ambiente mais saudável, rico e proveitoso;
- Contínua inovação;
- Ninguém se sente dono da verdade;
- Incentiva outras serventias a fazerem o mesmo.
Dicas para a seleção de pessoal nas serventias visando promover a igualdade e inclusão
A igualdade na seleção e contratação de funcionários é somente o primeiro passo em direção a se alcançar a diversidade, mas é um passo importante.
- Insista na formação de grupos diversificados de pessoas (idades, gênero, nível cultural, entre outros);
- Estabeleça critérios de seleção claros e objetivos com base nas atribuições, responsabilidades e tarefas das funções;
- Evite as contratações apenas com base em indicações;
- Organize a entrevista e o processo seletivo com base na identificação de habilidades técnicas e comportamentais do candidato;
Fica então o convite para que as colocações acima sejam inspiradoras e que façam parte desse movimento. A inclusão consiste, portanto, no reconhecimento de dar as mesmas chances e oportunidades de desenvolvimento profissional para todos.
Diversidade e inclusão falam de pessoas para pessoas, levando em conta suas individualidades e vivências que as fazem ser quem são e as tornem únicas.
A atividade notarial e registral já traz no seu DNA formas de atuar naturalmente na diversidade e inclusão.
Como qualquer estratégia dentro da serventia extrajudicial, implantar, ou melhor, conviver com a diversidade e inclusão, requer planejamento e foco.
A constante evolução da atividade notarial e registral propicia aos colaboradores o melhor desenvolvimento de suas melhores qualidades para que sigam os caminhos mais adequados aos seus interesses, necessidades e vocações.
Até o nosso próximo encontro.
Publicado originalmente no Jornal do Notário – ANO XXIV – Nº 209
– MAI/JUN – 2022, pgs. 28 e 29.
Por Gilberto Cavicchioli
É professor de pós-graduação em cursos de Gestão de Negócios, consultor e gestor da empresa Cavicchioli Treinamentos. Realiza cursos e palestras técnicas sobre gestão de pessoas em cartórios extrajudiciais. Autor dos livros O Efeito Jabuticaba, na 4ª edição e Cartórios e Gestão de Pessoas: um desafio autenticado, na 2ª edição. Conheça nosso material sobre gestão em: cavicchiolitreinamentos.com.br