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As novas tecnologias e demandas sobre qualidade de vida têm mudado a percepção das pessoas em relação à dedicação ao trabalho.

O trabalho padrão, clássico, aquele de sair cedo e retornar para casa no final do dia, cumprindo uma jornada de horas ininterruptas começa a ficar ultrapassado em alguns setores da economia.

Segundo relatório do International Workplace Group (IWG), feito com 15 mil profissionais em 80 países, inclusive o Brasil, 83% dos executivos entrevistados afirmam ter percebido aumento da produtividade depois de oferecer jornadas flexíveis às suas equipes de trabalho.

Mudanças no estilo de vida e hábitos das populações exigem adequações na relação capital e trabalho. Trabalhar de casa remotamente, sem exigir a presença física no local de trabalho, é uma tendência mundial. No Brasil, o número de empresas que oferece condições flexíveis de trabalho não para de crescer uma vez que isso traz muitos benefícios, tanto para o empregador quanto para o funcionário.

O trabalho flexível aumenta a produtividade?

O trabalho flexível aumenta a produtividade?

A legislação trabalhista brasileira não dispõe ainda de dispositivos que disciplinem jornadas móveis de trabalho. Adotar o home office, ou o trabalho remoto, parece ser interessante contanto que gere maior produtividade e fortalecimento da responsabilidade e comprometimento. Vale colocar na balança certos pré-requisitos antes de se adotar a prática como:

  1. Maior equilíbrio entre atividades profissionais e pessoais
  2. Maior concentração com menos interrupções nas atividades
  3. Redução de custos com consumos de materiais e serviços inerentes ao trabalho fixo no escritório
  4. Redução dos atrasos e faltas
  5. Aumentar a retenção de colaboradores

Na atividade extrajudicial, já há cartórios que flexibilizam o horário de chegada dos funcionários no início da manhã, evitando o período de pico no deslocamento de transporte, compensando essas horas em horários negociados caso a caso. Um deles é de um escrevente que percebeu que sua produtividade no trabalho na parte da noite era muito superior ao mesmo trabalho na parte da manhã.

Para que se tenha uma ideia de como esse assunto está mudando as relações no trabalho, há casos de empresas que no processo de recrutamento e seleção colocam a alternativa de flexibilidade de horários para atrair ainda mais o futuro colega de trabalho.

No caso dos cartórios extrajudiciais, a lavratura de atos mais complexos, como inventários com muitas partes envolvidas, sucessões, imóveis e herdeiros exigem alto nível de atenção e concentração. Para certos colaboradores, trata-se de um trabalho que pode apresentar maior produtividade quando realizadas em home office. Outro exemplo, como atas de usucapião, também apresenta maior desempenho em jornadas flexíveis e já faz parte do cotidiano dos cartórios.

O horário flexível traz muitos ganhos de produtividade. Porém, ele não exclui a importância do trabalho presencial. Tudo vai depender do tipo de trabalho, da equipe e dos resultados a serem conquistados para a satisfação dos clientes. Ou seja, apesar das vantagens, demanda uma avaliação de seus pontos negativos como:

  • sentimento de falta de convivência com os colegas;
  • baixo rendimento de funcionários que requerem um grau maior de supervisão;
  • perda na qualidade da comunicação entre os envolvidos;
  • menor contato com o público.

É recomendável, portanto, que antes da implantação da jornada de trabalho flexível seja feita uma pesquisa de opinião junto aos funcionários. Assim será possível avaliar se a adoção irá ter resultados práticos e positivos tanto entre os envolvidos quanto em atingir os resultados pretendidos.

Se a alternativa for aprovada, é recomendável também que seja implementado um projeto piloto, supervisionado pelo responsável da área de Recursos Humanos. Inovações exigem tempo de adaptação e correções. Um ou dois meses de testes são suficientes para demonstrar se a ideia será proveitosa ou não. A política da flexibilização prioriza o que as pessoas podem entregar e não o quanto de tempo elas permanecem no local de trabalho. Entre os desafios de implantação dessa nova modalidade de trabalho temos:

  • estabelecer critérios para medir o desempenho na função;
  • determinar atribuições e responsabilidades;
  • gestão das atividades cotidianas e o fluxo de trabalho entre os colaboradores;
  • a distribuição mais acurada de tarefas.

Se após o período de testes, a produtividade aumentar e os colaboradores entrarem em um fluxo de trabalho otimizado, a jornada de trabalho flexível poderá ser uma ótima alternativa para a força de trabalho da empresa.

Caso ela não se encaixe no modelo de trabalho ou não apresente os resultados em produtividade esperados, talvez não seja a hora certa. Entretanto, o mundo caminha para esse modelo flexível e fatalmente toda empresa terá um dia que se adaptar aos novos tempos.

Um fato interessante, presente na vida de todos, em qualquer país do mundo, que será cada vez mais determinante para a flexibilização dos horários de trabalho é o crescente número de adultos idosos nas famílias. Eles demandam cuidados constantes, geralmente a cargo de um ou mais membros da família. Se o colaborador estiver nessa situação, a jornada flexível permitirá que ele desempenhe a função sem prejuízo ao seu trabalho profissional.

Para estes e muitos outros casos, adequar as necessidades da empresa com expectativas dos funcionários pode permitir um maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal, elevando também a eficiência de todos os envolvidos. É uma garantia de empregabilidade, produtividade e retenção. E certamente uma maneira mais contemporânea de gerir uma empresa inserida nos tempos atuais.

Não podemos esquecer que, no caso dos cartórios, receber atendimento presencial, face a face, provoca no usuário uma relação de confiança, um senso de proteção que, cá entre nós, o trabalho à distância dificilmente pode proporcionar. Por isso é preciso ter a sensibilidade para introduzir essas novas alternativas de trabalho cirurgicamente, de modo que seja um bom desafio e uma ótima conquista para todos.

Ficamos por aqui.

Um abraço e até nosso próximo encontro.

Publicado originalmente no Jornal do Notário – ANO XXI – Nº 192
– JUL/AGO – 2019, pgs. 28 e 29

Gilberto Cavicchioli

Por Gilberto Cavicchioli

É professor de pós-graduação em cursos de Gestão de Negócios, consultor e gestor da empresa Cavicchioli Treinamentos. Realiza cursos e palestras técnicas sobre gestão de pessoas em cartórios extrajudiciais. Autor dos livros O Efeito Jabuticaba, na 4ª edição e Cartórios e Gestão de Pessoas: um desafio autenticado, na 2ª edição. Conheça nosso material sobre gestão em: cavicchiolitreinamentos.com.br